Ambiente Melhor

Nova tendência: fazer uma estimativa financeira de todos os riscos ambientais da empresa

Avalie este item
(5 votos)

siga-o-dinheiroPara o americano Cary Krosinsky, especialista em finanças sustentáveis, o levantamento de quanto uma empresa emite de CO2 ou gasta de água não é mais suficiente. A nova tendência é fazer uma estimativa financeira de todos os riscos ambientais da empresa.
"É crucial medir todos os impactos das empresas. Só assim se pode avaliar o potencial de sobrevivência num ambiente de escassez".

Primeiro foi a vez da pegada de carbono - empresas de vários setores começaram a fazer cálculos meticulosos de gases de efeito estufa jogados na atmosfera. Em seguida, veio a onda da medição do consumo de água. Tudo isso foi importante e continua válido, segundo o especialista em finanças sustentáveis Cary Krosinsky, responsável pela operação americana da Trucost, consultoria britânica que tem se destacado por ajudar empresas como Dell, 3M e Samsung a mensurar sua dependência do chamado capital natural. "Válido, mas insuficiente." Para Krosinsky, uma nova tendência está sendo lançada pela Puma. A fabricante alemã de artigos esportivos listou todos os seus impactos na área ambiental - da produção de matérias-primas, como borracha e couro, à distribuição global dos produtos.

Nesse ponto, entraram suas emissões de carbono, sim, mas também o fato de que parte de seus fornecedores estava desmatando áreas na região amazônica para aumentar as pastagens. A Puma, no entanto, não se contentou em fazer o mapeamento. Deu um passo a mais ao estimar um valor para cada uma de suas vulnerabilidades e acabou com o preço de sua conta ambiental: 145 milhões de euros. Na opinião de Krosinsky, a utilização dessa nova metodologia muda tudo. Primeiro porque os acionistas conseguem ter um parâmetro objetivo dos riscos que estão correndo. E também porque o cálculo financeiro coloca em evidência as limitações das políticas de compensação para diminuir as pegadas de carbono e de água. "Em um futuro de recursos naturais limitados, ações reparadoras não serão suficientes", afirma Krosinsky. De Nova York, o consultor conversou por telefone com EXAME.

Por que as empresas devem calcular o valor financeiro de seu impacto ambiental? As metodologias usa­das para medir a pegada de carbono ou hídrica já não cumprem esse papel?
Medir quanto uma empresa emite de gases de efeito estufa é um caminho necessário. Desde 2005, ajudo companhias a fazer inventários de carbono, um tipo de informação que tem sido cada vez mais pleiteado por investidores e bolsas de valores em várias partes do mundo. Mas isso é limitado, porque o impacto ambiental de uma companhia não se resume às suas emissões de CO2. O investidor quer conhecer o impacto de uma empresa como um todo, os riscos envolvidos em todas as suas operações. Atividades que, a qualquer momento, podem virar um grande risco para o negócio.

Como as empresas estão fazendo para medir todos os seus riscos?
Já existem metodologias para fazer o cálculo financeiro do impacto ambiental das empresas. Ou seja, contabilizar os custos que externalidades ambientais representariam no balanço de uma companhia se fossem computadas. A pioneira em fazer esse tipo de análise é a Puma. Ela mapeou toda a cadeia e colocou no papel o valor dos impactos.

O que motivou a Puma a realizar esse cálculo do impacto ambiental?
Com base nesse levantamento, a empresa vai refazer toda a sua estratégia de sustentabilidade. A análise deixou explícito que muitos fornecedores de couro estão desmatando áreas da Amazônia para converter a terra em pastagens. Esse é um impacto direto, uma externalidade da Puma que poderá ser cobrada da empresa no futuro. O relatório despertou tanto interesse que outras empresas da holding PPR (grupo francês dono da Puma, da Fnac e de grifes como Gucci e Yves Saint Laurent) também passarão a fazer o levantamento.

Na prática, o que pode ser feito com essa informação?
Acredito que essa tendência vá nor­tear investimentos sustentáveis nos próximos anos. Vamos imaginar que o levantamento de uma empresa acuse que seu grande impacto ambiental é o consumo de água. Num cenário em que a água deve se tornar uma commodity escassa, essa empresa tenderá a ser menos lucrativa ou terá de fazer investimentos altos para resolver a questão. O mesmo ocorrerá com empresas intensivas em carbono. Não basta mais medir emissões de CO2 e o consumo de água e ter ações de ecoe­ficiência. É preciso saber o valor desses impactos. Em um futuro de recursos naturais limitados, ações reparadoras não serão suficientes. Por isso o impacto deve ser medido em termos financeiros.

O senhor ajudou a formular os Prin­cípios do Investimento Sustentável da ONU, um texto que reúne as melhores práticas globais de aplicações. Essa iniciativa mudou alguma coisa no mercado financeiro?
As empresas não têm dúvidas de que é importante ter uma boa governança corporativa e um desempenho ambiental e social. Para elas já está consolidado que isso tem um valor intangível. Quem não percebeu ainda os benefícios são os analistas de mercado, que continuam exigindo que as empresas classificadas como sustentáveis tenham um desempenho em bolsa superior ao das "não sustentáveis", o que nem sempre ocorre. Dito isso, é verdade que os índices de sustentabilidade das bolsas de valores, inclusive o da BM&F Bovespa, conseguiram popularizar a ideia da preservação do meio ambiente no mercado de capitais.

Na comparação internacional, qual tem sido o papel do Brasil?
O Brasil construiu uma política energética baseada em fontes renováveis quando ninguém estava discutindo se esse era o caminho. Prova disso é a massificação do uso do etanol nos veículos. Outra vantagem do país é ter empresas que são símbolo de inovação e competitividade, como a Embraer. Sem falar na Amazônia, que é um ativo global estratégico e deve ser preservado para a posteridade. Costumo fazer uma analogia com o que ocorreu nos Estados Unidos.

Muitos americanos tiveram de brigar para que o país reconhecesse a importância de seus parques nacionais. Hoje eles são apreciados por todos. Os Estados Unidos também são um bom exemplo do que deve ser evitado. Nesse sentido, é só lembrar o estrago que a petroleira BP e seu vazamento no golfo do México causaram ao ambiente, à sociedade e aos investidores. No total, um prejuízo líquido de mais de 4,9 bilhões de dólares. É importante que as petroleiras em operação no Brasil sejam acompanhadas de perto por seus investidores.


Por: Andrea Vialli - Guia Exame de Sustentabilidade - 12/2012
Fonte: Planeta Sustentável 

 

A Ambiente Melhor ajuda a sua Empresa/Empreendimento a fazer a estimativa dos Riscos AmbientaisFale Conosco!

 

 

 

Siga-nos no Linkedin

Mais Artigos

I V F

         e-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.    Tel: 55 11 97348-9511

Copyright© 2012 - Ambiente Melhor. Todos os direitos reservados.